top of page
Vespa velutina nigrithorax: Implicação no Equilíbrio de Ecossistemas
russo_site.png

Paulo António Russo Almeida é professor auxiliar da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Departamento de Zootecnia, Escola das Ciências Agrárias e Veterinárias, Apartado 1013, 5000-801 Vila Real, Portugal, Tel: +351259350432 e e-mail prusso@utad.pt, nas áreas da Fisiologia Animal e da Apicultura, em cursos de 1º e 2º ciclo do ensino superior. Licenciado em Engenharia Zootécnica, em 1993, mestre em Produção Animal em 1997 e doutor em Ciência Animal em 2008, pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. É fundador em 2012 e responsável técnico-científico do Laboratório Apícola da UTAD (LabApisutad). Organizou ou participou como formador em diversos cursos de formação técnica e científica, na área da apicultura com especial ênfase em: Cursos de Apicultura, Análises Melissopalinológicas; Análises Sensoriais do Mel; Melhoramento Genético Apícola; Flora Melífera; Alimentação Artificial em Apicultura, etc. Tem participado como investigador colaborador em diversos Projectos no âmbito do Programa Apícola Nacional e dos Grupos operacionais do Programa 2020. É membro da IHC (Comissão Internacional para o Mel) e participa nos “Ring Tests” de Melissopalinologia que a mesma promove regularmente. Orientou e co-orientou vários trabalhos de investigação destinados a relatórios de estágio de final de curso, teses de mestrado e doutoramento, na área da apicultura. É autor e co-autor de diversos trabalhos de investigação publicados sob a forma de comunicações orais ou “posters” em congressos, seminários e outras reuniões tecnocientíficas e artigos científicos em revistas, nacionais e internacionais.

Resumo

3 de Março

2020

Uma das consequências da globalização é a introdução de espécies “exóticas” em novos habitats. Por vezes a conjugação da capacidade reprodutiva com as condições ambientais favoráveis levam a uma expansão desmesurada dessas espécies, com consequências nefastas para as restantes desse ecossistema invadido. O caso da Vespa velutina nigrithorax é um exemplo recente em Portugal. O primeiro avistamento terá ocorrido em 2009, mas só em 2011 foi confirmado e publicada a sua presença, no distrito de Viana do Castelo. A distribuição dos ninhos ao longo da foz do rio Lima  nos primeiros anos apontou como mais provável a sua entrada através do porto marítimo daquela cidade. Apesar de a região mais “infestada” ser a região de Entre Douro e Minho, esta espécie expandiu-se de norte para sul, preferencialmente ao longo da costa, tendo chegado a Lisboa o ano passado. Embora com menos intensidade os concelhos do interior também foram colonizados, de uma forma grosseira restam apenas as regiões do Alentejo e Algarve para a ocupação ser completa. Os planos elaborados e colocados em marcha pelas entidades oficiais mostraram-se ineficazes na contenção desta espécie invasora. Trata-se de uma espécie com ciclo anual no qual na primavera as rainhas fundadoras dão início a novas colónias construindo um ninho primário, posteriormente e conjuntamente com as primeiras obreiras um ninho definitivo que aumentará exponencialmente nos meses de julho, agosto, setembro e outubro altura em que são criadas as novas rainhas fundadoras que após breve pausa de hibernação darão início a novo ciclo reprodutivo. Este padrão é característico da espécie mas os momentos precisos de cada fase são bastante variáveis conforme a região, havendo inclusive suspeitas que nalguns casos o período de hibernação seja muito curto ou inexistente. Os principais impactos desta espécie invasora fazem-se sentir principalmente na segurança civil, na apicultura, na agricultura e por fim nos ecossistemas naturais. No primeiro caso o risco maior resulta da dificuldade de localizar o ninho favorecendo encontros imprevistos com a espécie que defendendo a sua descendência ataca os intrusos, podendo em caso de alergia provocar a morte. Na apicultura exerce principalmente dois efeitos, por um lado uma ação predadora de abelhas e por outro, mais grave um efeito dissuasor frente às colmeias que reduz o trabalho das obreiras no exterior. Isto leva a uma redução do fluxo de alimento (néctar e pólen) com consequente redução da postura da rainha, não havendo portanto o necessário rejuvenescimento da colónia antes do inverno, condições que aumentam a mortalidade neste período. Na agricultura os efeitos fazem-se sentir também a dois níveis por um lado a redução dos insetos polinizadores, em particular das abelhas, que diminui a produção de frutos e por outro os danos que as vespas exercem quando estes estão maduros, designadamente em peras, maças, uvas e figos. No que concerne às implicações para o equilíbrio dos ecossistemas resulta do efeito predador em diversas espécies de insetos muitos dos quais com função importante na polinização e por consequência com repercussão na produção de sementes das plantas selvagens que reduz a sua capacidade de dispersão.

bottom of page